segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Nara de Sá, a voz que balançou o Nordeste

 


Hoje vamos visitar a história de uma das vozes mais marcantes do interior nordestino entre os anos 90 e início dos anos 2000, época em que vivíamos um limiar de tempo entre a os maravilhosos anos 80 e “o futuro”, representado pela chegada de um novo milênio. Nesse tempo alguns locais do Sertão passavam dificuldades por conta das estiagens, em outros grandes projetos de abastecimento e irrigação muniam de esperança o povo, as TVs faziam sucesso com as novelas, programas de auditório e heróis japoneses,  na música, um tsunami de artistas vindos da Bahia tomavam de conta da cabeça dos jovens e criavam “dancinhas” que viriam durar um tempão, bandas de  baile levavam aos clubes uma agitação entre os clássicos vindos desde de a década de 60 e os refrãos chicletes da moda, no Sertão o  forró gonzagueano estava sendo visitado pela modernidade de artistas como Assisão, Jorge de Altinho e Alcimar Monteiro que davam uma nova roupa ao ritmo saindo do tripé sanfona, Zabumba e Triangulo, indo ainda além destes, um novo forró surgia feito por nomes coletivos, as bandas, nesse contexto surgiu os alicerces do forró moderno e um dos nomes marcantes dessa época foi o de Nara de Sá.

        Essa cantora pernambucana nasceu e viveu sua infância entre os sertões do Pajeú e Central em Pernambuco, em meados dos anos 80 sua família foi morar em Ouricuri que fica próximo aos limites entre os estados de Pernambuco, Ceará, Piauí e Bahia, uma fronteira cheia de cultura e talentos, foi já na adolescência que Nara acompanhou como plateia os festivais de música que movimentavam a região, compositores e interpretes de toda parte do Nordeste  convergiam até o município pernambucano para concorrer com suas obras, além dos festivais, concursos de calouros começavam a acontecer na cidade, era ali onde tudo ia começar. 

       Nos diversos festivais de calouros Nara concorreu e raro foram os que ela não venceu, em cada novo encontro todos já sabiam quem levaria o primeiro lugar, naquele cenário ela foi aumentando seus contatos e despertando a admiração do público e dos conjuntos musicais que levavam animação as festas na região, assim, no início de 1990 foi convidada para fazer um teste na sua primeira banda e também a casa onde marcou a sua história, a Banda Shock.

 

Banda Shock em atividade no início dos anos 2000
 

       Conduzida pelo competente músico Antônio Franco (Ratto), a Banda Shock estava ainda engatinhando no universo dos conjuntos de baile, a cidade de Ouricuri possuía antes dela o conjunto “Geniais”, responsáveis por levar alegria em dezenas de festas nos quatro cantos do Nordeste, o conjunto de Ratto avançou rápido e logo já caminhava também para uma infinidade de destinos levando a música na bagagem, por lá Nara ficou 01 ano indo em 1991 para os Genais onde ficou apenas alguns meses, retornando para a “Sua casa”, a Banda Shock onde permaneceria pelos próximos 13 anos.

      O período de banda shock de Nara foi um tempo de ouro, era um conjunto de baile digno das grandes casas do Nordeste, um coletivo que reunia músicos de uma qualidade ímpar, cada instrumento era executado com uma excelência enorme, é necessário “ Dar a Cézar o que é de Cézar”, houvesse um grande momento para celebrar na região a Banda Shock era o nome ideal, a voz de Nara era marcante e sua energia no palco não havia explicação, inúmeras noites foram celebradas com um dos melhores timbres e potencias de voz que o Sertão já viu, ao lado dela as vozes de Ratto e Lito davam o tom daquele formidável conjunto.

 

Capa do primeiro disco de banda

              Dois discos foram gravados pela Banda Shock, “Forreggae” e “Tem Batom e tem mulher”, no primeiro a banda mesclou vários ritmos, no segundo apenas forró. Nara participou dos dois cantando várias faixas.

        Sua voz foi uma intérprete impecável dos sucessos que vinham surgindo na época quando bandas como Limão com Mel e Mastruz com Leite iriam definir o que estaria tocando no interior nordestino por mais de uma década, ir em um show da Banda Shock era certeza de ouvir o que havia de novo e de melhor no forró e sendo interpretado com uma expressividade marcante.

         Com a saída da Banda Shock em 2004 Nara continuou cantando, em 2005/2006/2007 atuou respectivamente nas Bandas Doce Malícia, Orquestra Tropicaliente e Forrozão Adrenalina, na primeira delas chegando a gravar um disco. Ainda retornou em 2008 para a Banda Shock até o ano seguinte quando iria dar uma pausa na sua carreira. Durante os próximos 7 anos Nara de Sá ingressou na música gospel e ficou sem participar de eventos, apenas em 2016 voltou aos palcos, dessa vez para fazer um show solo com a mesma energia dos lendários  tempos da Banda Shock.    

           Nara traz uma força de artista que contagia, sua voz e sua performance no palco são representações nobres do artista que vai levando a arte pelo mundo e que se torna uma extensão do público em cima do palco, tendo a reciprocidade em meio à multidão, que ela siga fazendo à festa.  

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